Swing do Mundo

É ele quem toca à campainha. Já ali tinha estado com um casal amigo. Mas agora ele não está sozinho. Ela veio com ele. Ouviu-o contar o quanto tinha ficado excitado por ali estar. A porta abre-se. Sobem as escadas com ela à frente. À porta a dona do bar, com um sorriso de quem vê chegar um casal novo, giro. Ele relembra a dona quando ali tinha estado e com quem. O sorriso abre-se ainda mais. Sim, tinha havido flirt entre os dois, mas o sorriso dela é causado por agora ele vir acompanhado. E muito bem acompanhado. Os olhos dela fixam a dona. Ela não gosta de loiras mas há uma sexualidade emanada que a deixa confusa. Agora ela entende porque ele disse que aquele sítio libertava a libido. Sim, há erotismo, há swing, mas acima de tudo há o despertar dos sentidos. Enquanto se deslocam para uma mesa e ele vai buscar duas bebidas, ela estuda o local. Um balcão, uma pequena pista com um varão a meio, algumas mesas à volta. A televisão mostra pornografia mas ela prefere continuar a descobrir. Pouca gente, apenas dois ou três casais. Nenhum elemento dos casais lhe chama a atenção. Noutro sítio talvez não analisasse tanto as pessoas, mas aqui é diferente. Aqui observa-se e é-se observado. Ela sentiu logo isso à entrada. Sabe que um casal como eles chama a atenção. Provocam curiosidade. E desejo. Ela sente esse poder. Uns degraus e duas mesas numa zona mais resguardada. E outro espaço. Ela está curiosa. Ele aguçou-lhe o apetite. Mas ele chega com as bebidas, ela pergunta o que é a outra divisão. Ele ri-se. Conhece-a. Sabe que a curiosidade dela não tem limites. Ele diz anda comigo e agarra-lhe na mão. Atravessam a pista e sentem os olhares a acompanha-los. Passam as mesas recatadas e chegam a uma entrada. Umas escadas sem varão indicam um andar superior. Ele sobe os degraus devagar, sabendo que a curiosidade está a mil. Ela desconfia do que possa ser, mas o desejo faz o coração estar acelerado. Aquele lugar apela a sexo. No fim das escadas, um hall com duas divisões. Ele mostra um primeiro quarto com uma cama enorme. Ela passa por ele e entra no quarto. Imagina quantos corpos nus ali estiveram. Quanto sexo, paixão, desejo, tesão, loucura, luxúria por ali passou. Sente um turbilhão de sentimentos e sensações. Está confusa. Muita coisa lhe causa estranheza. A traição consentida, o ciúme contido, a infidelidade inexistente. E depois encontra a cara dele. Ela conhece o sorriso dele. Nem tanto o da boca, mas o dos olhos. Aquele olhar travesso e malandro que a faz vibrar desde o primeiro dia. Sabe-o capaz das maiores loucuras mas sabe que não há pessoa mais leal. Sem segredos, disse ele desde o princípio. Preferiram chocar-se um ao outro com confidências e desejos, sabendo que o outro aceitaria, do que esconder fosse o que fosse. E por isso estavam ali. Ela não resistiu a sorrir. Sabia que ele a convencia a tudo, mas não tinha medo. Confiava nele. Ele pegou na mão dela e deixou-a entrar sozinha no outro quarto. Ela disse que não se via nada. Ele riu. Ela não percebeu. Ele disse devagar duas palavras: quarto escuro. Imediatamente a memória dela regressou à infância. Às brincadeiras inocentes de crianças que descobrem a sexualidade pela primeira vez. Ela sentiu-se a criança naquele quarto escuro para adultos onde o tacto substituía a luz. Imaginou como poderia ser estar com alguém que não se via, um desconhecido. Mais uma vez procurou o rosto dele e logo descansou nos seus olhos. Ela tinha ainda muito que aprender e conhecer. Mas com ele não sentia medo. Não com ele. Chegou perto dele e deu-lhe um beijo. Ainda não estou preparada para o quarto escuro, confessou. Ele riu com a sinceridade dela e disse-lhe para não se preocupar. Nunca faremos nada que não desejas, assegurou-lhe. O lobo mau e o príncipe. Juntos naquele homem, revelados naquele momento. O homem que a leva a quebrar as suas barreiras, mas sempre segurando-a para não cair. Ele abraçou-a. Sabia que estava a ser muita coisa ao mesmo tempo. Não a queria pressionar. Estavam ali para viver algo em conjunto. Depois de uns momentos, desceram as escadas e mais uma vez sentiram os olhares, desta vez com alguma curiosidade extra pelo tempo demorado no primeiro andar. Chegaram à mesa e as bebidas esperavam por eles. Ele foi respondendo às perguntas dela sobre aquele universo. Ele lá foi explicando o que sabia. Ao ver a porta abrir-se e ver o casal que chegava, ele sorriu e disse que tinham chegado os melhores professores que podiam ter. Era o casal que o tinha levado lá a primeira vez. Logo os descobriram e foram ter com eles à mesa. Rápidas apresentações e a sonora cumplicidade masculina. Eram os dois homens que se conheciam há mais tempo. Ele olhou rapidamente para ela e viu-a a analisar o casal. Os olhos dela tinham rapidamente analisado o homem, mas foi a mulher que lhe chamou logo a atenção. Ele já lhe tinha dito que ela não era um mulherão espampanante, mas que ela ia ficar fixada nela. E tinha razão. Mais baixa que ela mas era incrível como aquele corpo exalava qualquer coisa. Ela não o conseguia definir, mas era óptimo. Uma sexualidade atrevida e libidinosa que a fez estremecer de prazer. E ela ainda só tinha perguntado se ela estava a gostar. Como estava fixada com a boca dela, teve de pedir para repetir. Sim, estava a gostar. Quer dizer, não sabia, estava a achar piada. Ahah! Risos das duas. Entretido à conversa com o amigo, ele gostou do riso partilhado pelo canto do olho. Enquanto o amigo foi buscar bebidas, ele aproximou-se delas. Perguntou de que falavam. Do ambiente, responderam. E riram. Então desta vez decidiste trazer companhia, perguntou a amiga. Sabes que isto foi bom sozinho, mas com ela só melhora. Com ela e connosco então nem se fala, provocou a amiga olhando para ela. Ele teve medo que a provocação tivesse sido demasiado directa e olhou para ela. Ela não parecia intimidada. Finalmente sorriu e disse que tinha curiosidade de muita coisa. O primeiro gelo pareceu quebrado. Seguiram-se belas conversas dos quatro, sempre com o olhar de inveja dos outros clientes que foram chegando. A certa altura uma música mais animada e quando os dois homens dão por eles tem as respectivas mulheres a dançar nas suas costas. Ela encostou-se às costas dele e a amiga às costas do amigo. Os dois riram-se. Sabiam que tinha começado algo. Os dois homens viraram-se e começaram a dançar com elas. Obviamente as mãos e as bocas não ficaram quietas muito tempo. Ele parou e disse que pensava que ela não gostava de beijos em público. Pois, mas este sítio não é normal, respondeu. Aqui dentro não parece haver limites, acrescentou ela. Ahah, eu avisei, disse ele. A dança sensual continuou entre os dois pares. Quis uma volta da música que os dois homens ficassem por trás delas e elas frente a frente bem perto. A música, a sensualidade, o ambiente fê-las aproximarem-se até à distância de um beijo. E beijaram-se. Primeiro timidamente mas depois com a libido ao rubro. A primeira reacção dele foi de surpresa. Não esperava que ela se deixasse levar. Olhou então o amigo, ele sorriu e piscou-lhe o olho. Já tinha visto a sua parceira seduzir outras mulheres. Olhou novamente para ela e viu que estava a apreciar aquele beijo diferente, feminino. Encostou então mais o seu corpo ao dela. Ela sentiu-o bem encostado e as mãos dele a percorrer o seu corpo. Um calor saia dos corpos de ambos. A dança foi-se tornando sexo. As duas mulheres continuaram a beijar-se. Os homens estavam cada vez mais excitados. Beijos no pescoço. Mãos nos seios. As mãos delas são ainda mais atrevidas que as deles e sabem onde tocar para excitar a outra mulher. De repente os olhos dos quatro cruzam-se mas de forma trocada. Assim, o olhar dele encontrou-se com o olhar lascivo da sua amiga, o olhar lascivo do amigo encontrou o dela. Ficaram assim durante um minuto. Em contacto com um corpo mas com um outro olhar. A cena era demasiado excitante. Ele olhou de lado a sala e toda a gente estava vidrada naquele espectáculo delicioso. Ela inclinou a cabeça para trás para lhe falar ao ouvido. Pensou que os limites dela estivessem a ser ultrapassados. Mas não. Ela disse-lhe apenas, vou trocar com ela. A princípio ele não percebeu, mas logo a viu trocar de posição com a amiga. Agora era o corpo da amiga encostada ao dele e o dela encostada ao amigo. Apesar de tremendamente excitado, ele não tinha entendido o porquê da troca. E só depois percebeu! Sendo quase possuída por trás e vendo-o possuir outra por trás, ela olhou-o nos olhos com todo o atrevimento. E ele mergulhou naqueles belíssimos olhos e sentiu um prazer sem palavras. Ali estava ela, provocando-o, sabendo que a ligação deles ia para além dos corpos. Dos deles ou dos corpos dos amigos. A ligação deles estava naquele olhar que os unia sem restrições. Depois de uns minutos assim, viu-a novamente inclinar a cabeça para trás e segredar algo ao ouvido do amigo. Viu-o rir e a acenar com a cabeça! Que fazia ela agora, pensou ele. Então ela segredou algo ao ouvida da amiga e também ela riu. Ficou confuso. A amiga voltou-se e deu-lhe um beijo na boca. Segredou-lhe, hoje quem te leva para a cama é ela! Então percebeu tudo. Muitas coisas novas naquela noite mas ela não ia abdicar dele. Não naquela primeira noite. Os sentidos dela estavam ao rubro e era com ele que ela queria explodir de prazer. Ele sorriu-lhe e puxou-a para si. Anda cá, capuchinho, disse ele. Quero o meu lobo mau, respondeu ela…

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