Prostituto do Mundo

Preâmbulo
Tenho 30 anos e sou um prostituto. É provável que sintam repulsa com as minhas palavras. Não escondo o que sou e o que faço. Caberá a vocês decidirem quem usa quem. Não quero a vossa pena ou simpatia, porque estou nesta vida porque quero. É uma escolha consciente.
Não vos farei um relato exaustivo de todas as mulheres que tive. Apenas vos mostrarei um lado menos conhecido da vida humana. Não omitirei nada e peço já desculpa se parecer demasiado cru. Mas fui encontrando diversas situações sem outros sentimentos que não o desejo carnal.
Desejo-vos uma bela leitura. Se chegarem ao fim sem ter gostado, fechem os olhos e imaginem-se parte da história. Estou certo que outras sensações irão surgir.
Um
Lembro-me bem da minha primeira vez! Não da primeira vez que estive com uma mulher, mas da primeira vez que o sentimento não era amor. Sim, porque não pode haver dúvidas. Neste negócio há desejo, há tesão, até pode haver alguma paixão, mas nunca amor. Mas o que faz de mim conhecido entre as mulheres foi a mistura de sensações que eu produzia. As mulheres procuravam um corpo para suprimir as suas necessidades, as do corpo e as afectivas. Aprendi isso com L. A primeira. Eu tinha vinte e dois anos. Ao contrário de outros que forneciam estes serviços, eu não tinha o meu nome publicitado em lado algum. Tinha conhecido um homem que o tinha feito durante anos e agora fazia prospecção. Não era um chulo tal como temos ideia dos chulos. Geria os contactos e eu pagava metade da primeira vez que estivesse com alguém. Assim, ficava a ganhar se me arranjasse novas clientes e eu ficava a ganhar se elas se tornassem regulares. Começo por falar das regulares porque L., a primeira, se tornou regular.
Eu tinha a minha própria casa. A princípio tive receio de usar a minha casa, a minha privacidade, mas o Prospector disse-me que era melhor assim. Uma regra de ouro que nos protegia a nós: o primeiro encontro é sempre num local público. As condições são faladas e eu decido se passamos à fase seguinte. Confesso que receei que me calhasse uma mulher feia no primeiro encontro. Eu sabia que não se pode ser mesquinho e sempre soube encontrar a beleza nas mulheres, mas queria algo bom para me iniciar. E tive sorte. L. era uma mulher que chegou aos 40 anos com tudo no sitio. Olha e sorriso malandro, corpo trabalhado no ginásio. Mulher realizada profissionalmente que não teve tempo ou paciência para uma relação normal. Pois bem, aconselhada por alguém com quem tinha estado (o meu Prospector), decidiu experimentar alguém 20 anos mais novo. Eu! Primeiro há uma conversa introdutória, em que basicamente é a mulher que fala, porque somos aconselhados a não revelar demasiado da nossa vida. Ser atencioso e charmoso, sem mentir ou nos expormos. Mulher vivida, que sabia o que queria: alguém com quem estar, alguém carinhoso mas sem tabus, alguém que não criasse problemas. Pois bem, perguntei se ela queria ir até minha casa. Era a senha. A palavra-chave. A entrada num mundo novo…
Tenho a sorte de ter um belo apartamento. Grande, amplo, lareira, banheira de hidromassagem, cama enorme, espelhos… Porque é que isto é importante? Porque tudo deve estar preparado para por a pessoa à vontade e criar um ambiente de sedução e intimidade. Tudo estava preparado quando L. entrou comigo em casa. Pedi para ela fechar os olhos. Cada mulher é um mistério. Cada uma tem uma combinação especial para obter prazer. E eu percebi L. imediatamente. Usei um lenço para lhe vendar os olhos e encaminhei-a para o meu quarto. Disse-lhe para ela aguçar os outros sentidos: cheirar, ouvir, tocar, saborear. Acendi as velas e o incenso, liguei a música e comecei a despi-la. Tinha uma lingerie preta, de renda. Ainda com a venda posta, deitei-a na minha cama e percorri todo o seu corpo com as minhas mãos. Ao longo dos anos refinei a técnica, mas sempre consegui intuir os desejos femininos. L. era uma mulher de jogos de prazer. Tanto lhe fazia uma massagem com ela vendada, como era vendado enquanto a boca dela sugava todo o meu corpo. Era uma mulher que buscava prazer mas que também precisava de dar prazer. Foi uma lição que me ficou. Tem de haver equilíbrio na cama. Ninguém gosta de ser só dominado, ou de só receber prazer. Gostamos de dar prazer, sentir que o outro está a gostar. Por isso sempre recusei de ser apenas sexo mecânico. Com todas as mulheres, em todas as vezes, elas tiveram-me por completo.
L. adorou estar comigo. Disse ter descoberto o seu novo cabrão fofinho. Na altura ri-me com a designação, mas a verdade é que ao longo dos anos fui ouvindo variações com o mesmo significado: playboy romântico, doce fodilhão, bandido encantador, e, é claro, príncipe lobo mau. A mistura entre um homem atencioso e meigo e um amante sedutor e sem limites.
O facto de se ter tornado regular concedeu a L. certas regalias. Muitas noites ficou a dormir comigo. Aliás, a cumplicidade já era tanta que muitas vezes ela saía com as amigas, ligava-me e quando chegava a minha casa já tinha um banho de espuma preparado para ela. De seguida, ia ter comigo à cama, fosse para sexo fosse para dormir. Mas não se pense que as coisas se misturavam ou confundiam. Ambos sabíamos o nosso lugar. Mantivemos esta relação durante alguns anos até que L. deixou de ligar. Talvez tenha encontrado um amor tardio ou um amante mais novo. Seja como for ela foi a primeira e uma mulher importante na minha vida.
Acho que como essa primeira cliente deu óptimas referências sobre mim, o Prospector me foi protegendo. Como quando, por exemplo, deu o meu número a C. Alguns anos mais velha que eu, decidiu recorrer aos meus serviços porque estava desiludida com os homens. Cabelos castanhos, olhos verdes, corpo magro, busto exuberante, era uma bela mulher. Confessou-me logo que estava cansada de não ser bem tratada. Como ia pagar queria ser bem tratada e ter bom sexo. E riu-se com uma gargalhada que aprendi a reconhecer como espontânea e sincera. Não me esqueço da primeira noite com C. Senti-me possuído, consumido de uma forma animalesca por aquela mulher. Ela entregou-se de tal forma que a noite de sexo passou a voar. E depois de termos dormido um par de horas, ela acordou-me com uma renovada fome do meu corpo. Senti que era uma fome que ao longo dos tempos foi sendo saciada até ao dia em que C. me anunciou que estava curada. Antes de ter estado comigo, tinha pensado no suicídio mas agora sentia-se livre de todos esses problemas. E estava disposta a procurar um novo amor. Perguntou-me se estava disponível, com a sua gargalhada característica. Respondi-lhe que o homem que a levasse seria um homem de muita sorte. Sorriu, deu-me um último beijo e saiu. C. tornou-se amiga. Nunca me recriminou pela minha ocupação e sempre me pediu conselhos. E sim, encontrou o seu homem. Melhor assim…
K. foi um caso diferente. O Prospector disse-me que lhe tinham pedido um homem carinhoso. Pele branca, olhos cor de mel, cabelo preto comprido. Se vampiros existissem, esta era uma bela candidata. Não entendia como uma mulher tão atraente pudesse querer os meus serviços. Mas bastaram poucos minutos para o perceber. A sua timidez e as circunstâncias da vida tinham feito com que nunca tivesse estado com um homem. Pediu-me que lhe mostrasse tudo. Tinha medo que a primeira vez a magoasse e por isso pediu-me que tivesse cuidado. Tive mil e um cuidados mas foi delicioso sentir aquela mulher a desabrochar. Sentir coisas que nunca tinha sentido, a pedir mais e mais. O sexo era intenso, e aquele corpo inexperiente era inundado por uma torrente de orgasmos. Sentia-me o maestro de uma orquestra de sensações. Ela ia-me perguntando se era normal e eu sorria. Nunca dormiu comigo. Disse que queria guardar isso para um namorado. E eu sorria. Apesar de ser mais velha que eu, sentia-me quase o seu protector. E da mesma forma, ela via-me como alguém que a ajudou a descobrir um mundo novo. K. seguiu o seu caminho. Ainda estivemos juntos uns meses. O suficiente para ela ganhar o seu espaço no meu arquivo de memórias.
Já I. era diferente. Mais nova que eu, quis os meus serviços porque adorava sexo e gostava de ser saciada. Da cor do cacau, corpo de pantera africana, só parava quando sentia que estava completamente satisfeita. Não era mulher de muitos carinhos. Relaxada e sem preocupações, só a falta de roupa a fazia concentrar-se. Era de tal forma boa amante que eu ficava sempre na dúvida se não era eu que tinha mais prazer. Era a mais irregular das minhas clientes regulares. Tanto estava dois anos sem dizer nada como me pedia uma semana inteira. E nessa semana não fazíamos mais nada que não fosse sexo e comer. Exigia que lhe preparasse as refeições. Normalmente não fazia parte das minhas condições mas confesso que não lhe resistia. Tenho um fascínio especial pelas mulheres que vem do continente-mãe. E I. simbolizava tudo isso. A força da mulher africana, o desprendimento quase infantil, a importância dos prazeres carnais. Cheguei até a cancelar outras clientes para estar com ela. A miúda tinha algo. Já não a vejo há algum tempo mas não a esqueço…
Tive mais algumas clientes regulares mas não meu objectivo fazer um relato completo. Apenas lembrar algumas das mulheres que passaram pela minha vida. Mas nem todas foram regulares. Aliás metade delas só esteve comigo uma vez. Mas isso é a seguir…
Dois
As “one night only”! Pessoas com quem só estive uma vez. Fosse porque foi uma loucura única, ou porque não voltaram à minha cidade, ou até porque não gostaram, a verdade é que várias mulheres passaram pela minha vida como tufões. Alguns exemplos de casos diferentes.
J. era alemã! Uma artista que passou pouco tempo em Portugal. Como quase todas as alemãs, escondia muito calor por baixo da aparente frieza. Loira de olhos azuis, piercings no umbigo e na língua, perdeu pouco tempo com conversas. Os seus beijos eram quentes e ousado. Insaciável na cama. Estava ali para receber prazer. Fez questão que eu falasse em português e em falar alemão durante o sexo. Confesso que a língua alemã, que se sempre me pareceu rude e desprovida de sentimento, ganhou um novo encanto. Foi uma longa noite de sexo. Sem direito a sono. Nunca mais a vi! Nunca mais soube nada dela. Será sempre J., a alemã.
Já J. era portuguesa mas a viver na Austrália. Só vinha a Portugal uma vez por ano e queria ter um português diferente durante uma semana. Calhou-me a mim. Baixinha, repleta de sinais e com um corpo fantástico. Durante uma semana fui o escravo sexual dela. Desde ser amarrado e vendado, ver gelo, cera e chantilly usados no meu corpo e no corpo dela, valia tudo. A cada vez que pensei que já tínhamos chegado ao limite da loucura, ela conseguia surpreender-me. Pela primeira vez, estive no limite da exaustão mas valeu a pena. No fim disse-me ser a primeira vez que lhe apetecia repetir o mesmo homem no ano seguinte, mas não podia ser. Em compensação deixou-me uma recompensa monetária obscena. Com aquele dinheiro podia ter largado esta vida, mas não o fiz.
Já C., por exemplo, foi o único caso que fui eu que decidi não repetir. Porquê? Porque algo correu mal na primeira vez. Quase todas as mulheres gostavam de me fazer sexo oral. Porque sentiam prazer em dar-me prazer. É óbvio que eu não me queixava e até me deliciava. Até C.! C. uma mulher na minha idade, bastante vivaça, com uns enormes olhos azuis expressivos. Decidiu estar comigo porque queria provar a um prostituto como podia ser melhor que ele. Era uma feminista que dizia que os homens tinham a mania que eram bons na cama, mas qualquer mulher era melhor que eles. Toda esta arrogância me fez logo muita confusão mas a minha curiosidade foi mais forte, decidi arriscar. Como cavalheiro que sou fui eu o primeiro a fazer sexo oral. E por tudo que ela tinha dito, esforcei-me e só a larguei depois de a ter feito chegar ao orgasmo duas vezes. Então disse-me que era a sua vez. Confesso que estava um pouco ansioso. Até começou bem. Usou a língua enquanto me provocava com o seu olhar. Mas aí começou o problema. Não tendo consciência do que fazia, começou a usar os dentes. Em vez de deixar que o pénis deslizasse entre os lábios, fazia-o com os dentes. Nunca senti tanta dor num acto sexual. Só por orgulho masculino não pedi para parar. Mas a verdade é que quando já não aguentava mais, decidi passar á fase seguinte. A verdade é que ela saiu satisfeita, talvez por julgar que me deu prazer. Mas eu decidi que não suportaria mais aquela tortura…
Três
Agora três casos específicos. Três mulheres divorciadas. Uma nos vintes, uma nos trintas e uma nos quarentas. Inverto a ordem.
D. foi a mulher mais velha com quem estive. A meio dos quarentas, divorciada e com uma filha nos vintes. Depois de ter sido deixada pelo marido, esteve meia década sem estar com um homem. Tinha perdido a esperança neles. E preferia estar com um que não lhe mentisse e a tratasse bem. Fui eu o escolhido. Senti a sexualidade reprimida daquela bela mulher. No fim da relação, num assomo de mulher-mãe, pediu se podia dar-me banho. Os dois na banheira e ela a passar a esponja por todo o meu corpo. Soube nesse instante que aquela seria uma vez única. Foi a forma de ela retornar vinte anos atrás e ter outro homem que não o seu ex-marido.
Já T. era diferente. Com trinta e poucos anos, uma filha adolescente e um marido que só serviu durante uns tempos, ela queria era diversão e prazer. Ao fim de cinco minutos já me tratava por amor, bebé, chuchu, etc. E enquanto estávamos na cama tanto dizia “fode-me” como pedia para “fazer amor devagarinho”. No espaço de segundos. Só estivemos na cama uma vez, mas a sua personalidade festeira levava-me como amigo para festas e mais festas. Tanto me ligava de Londres, Madrid ou Mónaco. Acho que a partir de certa altura eu já não era o homem que tinha pago para ir para a cama, mas o amigo das festas. Ou o irmão mais novo. Nunca percebi muito bem, mas divertia-me com ela. Um dia recebi uma mensagem a dizer que tinha namorado e que estava feliz. Ainda bem…
M. era uma divorciada diferente. Com vinte e muitos anos e dois filhos, tinha casado muito nova, não tinha planeado as gravidezes e quando deu por si não gostava do marido. Deixou-o e ficou com as crianças. Adepta de espiritualidades e sexualidades, levou-me a descobrir os chakras, tantras e reikis numa só noite. Estivemos horas sem nos virmos numa busca do prazer máximo, um nirvana sexual. Não sei se passamos por essas fases todas, mas fiquei satisfeito quando finalmente pudemos ter o orgasmo. M. saiu como tinha entrado, uma espécie de espírito do sexo. Uma experiência diferente…
Pois bem, falei aqui nas divorciadas. Mas a verdade é que também tive mulheres casadas, mas isso dá outro capítulo.
Quatro
Sim, é verdade, nem só os homens casados traem. Tive mulheres casadas, que chegaram até mim por diversas razões. Três casos diferentes.
J. era uma mulher com 30 anos. Casada há um par de anos, sentiu que o casamento tinha sido um falhanço. O marido passava o tempo todo no trabalho ou com amigos, e não a satisfazia. Não a satisfazia em todos os planos, desde o sexual até ao afectivo. Com ela para além de amante, fui amigo, confidente e psicólogo. Quando esteve comigo a primeira vez, J. era uma mulher frágil, partida, a definhar. De tal forma que na primeira vez que estivemos juntos tinha relutância em tirar a roupa por achava que tinha um corpo feio. Não tinha. Tinha até um corpo bem feito. Mas não acreditava nisso. Perguntou-me se de facto achava que ela não era feia. A sua auto-estima foi-se reconstruindo ao longo do tempo. E uma parte fundamental para isso foi ela tomar as rédeas no acto físico. Era ela que impunha os ritmos, as posições, tudo. Ali só interessava o prazer dela. Sei que sem intenção, mas tenho a certeza que em nenhuma altura lhe passou pela cabeça se eu tinha prazer ou não. Eu estava ali para servir o prazer dela. E para a fazer sentir bem. A auto-confiança dela foi crescendo a olhos vistos até ao dia em que me informou que aquela seria a última vez que estaríamos juntos. Que muita coisa ia mudar na sua vida. Senti-me tentado a perguntar porquê, mas se ela não me contou foi porque não quis. Não sei se a solução foi exigir mais do marido ou o divórcio, mas sei que J. se tornou uma mulher mais forte.
E. era uma caso diferente. Casou com um homem 15 anos mais velho já com duas filhas. Teve uma filha com ele mas sentia-se insatisfeita. E por isso vinha ter comigo para ter um “homem novo”, como ela dizia. Sabendo que o marido era ciumento, adorava correr os riscos de ser apanhada. Uma das suas fantasias favoritas era estar a ser penetrada por trás e ligar ao marido para saber onde ele estava. É óbvio que era um jogo perigoso mas ela era a primeira a não querer ser descoberta. Pediu-me algumas vezes para ir ter com ela ao seu local de trabalho só pelo prazer de transgredir as regras. E. era assim mesmo. Dizia e fazia o que entendia. Queria um gigolô mais novo com quem passar bons momentos. Fosse de manhã, ao almoço, ao fim da tarde ou madrugada fora. Deliciava-se a contar as desculpas e mentiras que tinha usado no trabalho ou com o marido. Não era das clientes favoritas. Demasiado imprevisível. Por vezes só ligava quando já estava à minha porta e isso, obviamente, era um problema porque eu podia não estar preparado ou até ocupado. Por isso, apesar do sexo desenfreado que sempre tive com ela, não fiquei nada aborrecido que tenha decidido procurar outro “boy toy”. Não foi das melhores memórias mas serviu para ilustrar uma mulher casada com pouco respeito pelo casamento.
Não era tanto o caso de A. Também estava a meio dos trintas, era casada há mais de uma década e tinha três filhos. Amava e respeitava o marido mas só o tinha conhecido a ele na cama. Já tinha ousado brincar anonimamente nos chats da internet mas quis algo real. Uma só vez! Uma loucura para saciar a curiosidade do “outro” para voltar à felicidade do seu casamento. Sim, porque era feliz. O marido dava-lhe tudo o que ela desejava. Tinha apenas aquela curiosidade traquinas de quem quer conhecer o jardim do vizinho, mesmo se for para confirmar que o seu é melhor. Ela entrou em minha casa imensamente nervosa, rindo de dois em dois minutos com uma gargalhada contagiosa. Dizia-me que eu era um puto giro e que devia estar louca em fazer aquilo. Parecia perdida naquele ambiente. Digo parecia porque mal chegou ao quarto foi ela a mandar. Não me deu tempo para nada. Encostou-me ao armário e antes que pudesse fazer algo, arrancou-me as calças e engoliu-me. Completamente. Até me sorver. Fiquei desarmado. Tentei recuperar fazendo-lhe o mesmo, mas esse orgasmo só a fez soltar mais. Sexo vaginal, anal, fisting, e tudo mais que possam imaginar. Senti-me a percorrer o Kama Sutra e todo o universo da pornografia ao mesmo tempo. Senti-me Marquês de Sade, Casanova, Dom Juan e todos esses libertinos sexuais. Durante uma tarde, tudo o que não conhecia ou não tinha feito até então, fiz. Dei muito prazer e tive muito prazer. Foi apenas uma vez mas A. ficou-me com uma cliente que me levou ao limite do prazer. Ainda hoje falamos e brincamos inocentemente um com o outro, mas ela é feliz com o marido e eu feliz com isso…
Cinco
Comecei por dizer que nesta ocupação não pode haver amor. Mas e quando há? Quando há, é muito difícil de lidar. Tive três casos diferentes com graus diferentes de complicação. Falarei da mais simples para o mais complexo.
Começo por V.! V. era uma bela mulher com a mesma idade que eu, 26 ou 27 anos. Olhos verdes de gata, cabelo preto liso, um corpo com tudo no sítio. Uma mulher que não passava despercebida e que muitos homens desejariam ter na sua cama ou na sua vida! Pois bem, o problema é que a minha cama era trabalho para mim. Apesar de ser uma bela amante não me tinha suscitado uma atracção especial. Ela não tinha nada de errado, apenas não abanou com o meu mundo. Ora para uma mulher que estava habituada a ter os homens a seus pés, era quase uma afronta ter de pagar para estar com o homem que se dizia apaixonada. Várias vezes me tentou demover da minha ocupação, dizendo que eu não precisava daquilo, que podia ter uma profissão mais digna. Obviamente também dizia que poderíamos ter uma relação e que nos via juntos por muito tempo. Eu não sei se o sentimento era puro ou se eu era apenas um capricho, Sei que eu não o sentia. Dei-lhe então duas hipóteses: ou estava comigo apenas numa relação profissional ou não estaríamos mais vezes juntos. Afastou-se durante uns tempos. Voltou e disse que só me queria como objecto. Chegou a ser até desdenhosa. Tinha prazer em mostrar que eu fazia o que ela queria por dinheiro. Mas eu não precisava de dinheiro dela. E fui eu a terminar a relação profissional. Tentou novamente convencer-me a deixar aquela vida. Decidi terminar de vez. Num assomo de desespero, foi queixar-se ao meu Prospector. Depois de falar comigo, ele aconselhou-a a afastar-se. Tempos depois ele confidenciou-me que ela tinha feito o mesmo com outro e o tinha convencido a largar esta ocupação. Talvez estejam felizes! Espero que sim, mas não me interessa…
C. foi talvez a situação mais caricata que tive. Eu e C. éramos amigos. Ela não sabia da minha ocupação e quando nos encontramos ficamos envergonhados e sem saber o que fazer. Estudamos juntos mas não sabíamos um do outro há uns anos. Uns dias mais nova que eu, C. tinha os olhos cinzentos mais bonitos que conhecia. Uma beleza diferente mas chamativa. Tivemos um encontro a pagar em que descobrimos uma química que nunca tínhamos percebido entre nós. Encontramo-nos várias vezes como amigos e acabamos na cama. Perguntou-me o que sentia por ela. Não menti, disse que sentia paixão mas não estava apaixonado. Disse-me que entendia mas que se ia afastar porque tinha a certeza que se ia apaixonar por mim. Disse-lhe que não a queria magoar mas também não queria perder a sua amizade. Assegurou-me que éramos amigos antes e ficaríamos amigos sempre. E ficamos. Fomos falando, fui conhecendo os seus amores e desamores. Provavelmente noutra altura ter-me-ia apaixonado por C. Porque é uma mulher que atrai. Mas não naquela altura…
Já S. me fez vacilar. Foi a única mulher que me fez pensar deixar de ser prostituto. S. contactou-me a primeira vez para preparar uma surpresa para uma amiga. Eu estive com a amiga, uma só vez, mas ficou-me na memória aquela menina mais nova que eu uns anos, muito gira e doce, com um sorriso fascinante e um corpo delicioso. Passaram-se uns tempos mas a imagem dela não foi esquecida. E passados uns dois ou três anos, S. contactou-me. Disse-me que desde que me tinha visto lhe tinha apetecido estar comigo, mas que seria estranho estar comigo quando tinha estado com a amiga. Disse-lhe que ela não podia esquecer a minha profissão. Ela disse que sabia disso mas queria estar comigo. Não cobrei nem a primeira vez. Paguei do meu bolso ao Prospector! Estivemos juntos vezes sem conta, mas nunca quis dormir comigo. Disse que só dormiria comigo quando fossemos algo mais. Mas eu não consigo apaixonar-me totalmente se não conhecer o sono de outra pessoa. Partilhar o sono é para mim mais íntimo que partilhar o corpo. Ela confessou-se apaixonada por mim, mas que teria que abandonar a profissão. Passei várias noites em branco a pensar se o fazia ou não. A parte física era incrível, S. era uma mulher apaixonada e dedicada, que tinha prazer em dar-me prazer. Tinha a certeza que nunca teria falta de amor dela. Mas eu não conseguia dar o passo. Porque não tinha a certeza de estar apaixonado. E não lhe podia mentir. A conversa com ela foi das mais difíceis que tive na minha vida porque senti que se tenho escolhido o outro caminho, a minha vida teria sido completamente diferente. Melhor ou pior não sei…
Seis
Com S. foi a única vez que a minha vida profissional se cruzou com a vida privada. Mas durante os anos que foi prostituto, tive outras relações. A minha vida privada! Pode parecer estranho, mas de facto eu conseguia separar as coisas. É claro que fora da esfera da relação que tinha com as minhas clientes, era um homem normal. E sempre adorei o mundo da sedução. Na minha profissão não há uma sedução pronunciada. Porque não há a incerteza do que pode acontecer. Na vida privada sim. O interesse em alguém, a demonstração desse interesse (seja um olhar ou um piropo), a vontade mútua ou não e a relação. É óbvio que não tive nenhuma relação ou compromisso que se possa chamar de namoro. Porque então não poderia continuar a ter a minha profissão. No entanto tive amizades coloridas que duraram largos meses ou anos. Algumas sabiam o que eu fazia (sem me condenar, talvez pelo prazer secreto de não pagarem por algo que outras tinham de pagar), outras não faziam ideia.
Esses dois mundos tiveram o condão de me fazer gostar mais e mais das mulheres e do seu universo. Descobrir a beleza de cada uma, os seus desejos e vontades, medos e angústias, pensamentos e comportamentos. De tal forma que dei por mim em muitos momentos a tentar compreender uma cliente ou amiga colorida. Quase uma sessão de psicologia contínua no universo feminino. Em muitos momentos, senti-me quase louco por ter tantas vidas na minha cabeça. Quase como um actor empenhado em vários papéis. Várias personagens, várias tramas, vários textos. Uma esquizofrenia humana em que a única constante era eu mesmo. Compreendi o problema da poligamia. É quase impossível conhecer completamente uma mulher, quanto mais várias. E eu apenas as tinha na minha vida durante um tempo determinado. Dei por mim a pensar que seria incapaz de ter uma amante, porque daria em doido ao perceber que é impossível fazer as duas (ou mais) felizes.
Mas, de facto, a minha vida privada nunca me fez deixar o mundo profissional. Até hoje…
Sete
Comecei esta confissão dizendo que sou um prostituto. Era até este capítulo. Ao escrever estas linhas, deixo de o ser. Deixo-o por várias razões. Porque ganhei dinheiro suficiente, porque me cansei de dividir a minha atenção por várias mulheres e, acima de tudo, porque apareceu uma mulher especial.
Surgiu na minha vida privada e foi-se impondo de tal maneira que me fez repensar tudo. Aliás, pouco pensei. De tal forma os prós pesaram que poucos dias demorei a tomar a decisão e a comunica-la ao Prospector. A princípio tentou demover-me, até porque sabia que eu era um dos melhores que ele tinha, mas rapidamente percebeu que não me conseguia convencer. Com um sorriso, apertamos as mãos e despedimo-nos.
Uma nova etapa na minha vida. Muito tempo sem ter um compromisso sério e monogâmico. Os medos e inseguranças todos de volta. Mas a recompensa é a melhor de todas: o amor de alguém.
Sei que este não foi o mais normal dos relatos. Alguns de vós devem ter desistido. Mas os resistentes devem ter entendido que fui o que fui sem concessões ou más intenções. Guardo cada uma das mulheres na memória e aqui partilhei alguns momentos. Espero que tenham gostado. Está na hora de partir…

6 comentários:

Vontade de disse...

Gosto do final. Romântico qb. ;)

DoisaboresEle disse...

Li tudo... do início ao fim...
Adorei cada palavra...
Beijos

Entre Frestas.... disse...

amei tudo, coragem e destreza com as palavras.
beijo

paula disse...

Belo relato (:

Confesso Amor disse...

Acho impossivel nos perdermos no caminho...as tuas palavras sao como heras que se entrelaçam na nossa vontade de mais.

Gostei :)

Anónimo disse...

Estou a tentar ser prostituto tambem. Mais pela questao do €. li tudo e adorei

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